Imperfeição é a falta de representatividade nas plataformas sociais

Publicado em 31/05/2024 às 18h36

Por Henriane Morelli – Abril, 2024

A representatividade de pessoas com deficiência nas plataformas sociais vai além de simplesmente estabelecer conexões entre marcas e consumidores.

Por que será que não encontramos mulheres paraplégicas desfrutando de um happy hour com as amigas nos canais sociais dos fabricantes de cerveja? Ou uma pessoa com síndrome de Down discutindo a relevância da prevenção e dos cuidados com a pele em um anúncio de fabricante de filtro solar? Fico pensando quantas imagens selecionamos para os nossos editoriais que retratam pessoas com deficiência. Será que esse público não consome nossos produtos? Será que eles não apreciam uma cerveja gelada, uma xícara de café quente ou um delicioso iogurte? Será que não adquirem carros ou compram passagens aéreas?

A seleção de imagens para sites, blogs e redes sociais contribui significativamente para a construção da identidade de uma marca. A ideia é capturar a atenção do usuário em um contexto onde os meios de comunicação estão cada vez mais segmentados. Conteúdos com imagens mais atraentes, inseridas com autenticidade e propósito nas conversas, geram mais engajamento e desempenho. Isso me chamou a atenção hoje, enquanto revisava e aprovava o conteúdo dos nossos clientes; nenhuma das imagens escolhidas para os editoriais tinha pessoas com deficiência. Para ser sincera, nem mesmo nos canais sociais da HRI Digital. 

Segundo dados do IBGE e da PNAD 2022, são 18,6 milhões de brasileiros com deficiência de norte a sul do nosso país. Sua beleza representa todas as interseccionalidades do nosso povo, refletindo uma rica diversidade estética, cultural e histórica. Além de sua significativa contribuição cultural, essa parcela da população também desempenha um papel crucial na economia nacional, movimentando cerca de R$ 22 bilhões em poder de compra por ano. Esses dados destacam a importância econômica e social das pessoas com deficiência, ressaltando a necessidade de políticas inclusivas e de um mercado que reconheça e valorize essa diversidade. A presença de brasileiros com deficiência no mercado de consumo não só impulsiona a economia, mas também exige uma sociedade mais inclusiva e acessível, capaz de atender às diversas necessidades e potencialidades dessa população.

Contudo, a disparidade nos dados sobre a população com deficiência no Brasil revela a falta de atenção dada a esse grupo e destaca a ausência de critérios consistentes para sua contagem. De acordo com o IBGE de 2010 (último censo que declarou a população com deficiência), são mais de 45 milhões, representando 24% da sociedade de pessoas com deficiência. No entanto, a escassez de dados precisos constitui uma barreira para sua visibilidade. Aqueles que não são contabilizados acabam por não serem percebidos.

Segundo Carolina Ignarra, CEO e Fundadora do Grupo Talento Incluir, a qualidade dos dados é fundamental para que eles sirvam de base para caminhos bem construídos. A inteligência na apreciação da informação é crucial. É necessário ter cuidado com interpretações tendenciosas.

“Não somos poucos, apenas não somos contabilizados. Pessoas que não são contabilizadas, não são percebidas, não são consideradas e não são incluídas!”, diz Carolina.

A inclusão de pessoas com deficiência nas estratégias de posts orgânicos e pagos vai além de simplesmente mostrar diversidade; trata-se de criar conteúdo que ressoe com diferentes públicos. Isso significa compreender temas importantes como interseccionalidade, capacitismo, acessibilidade e representatividade, e incorporá-los de maneira autêntica nas campanhas dos canais sociais. Estratégias de marketing de qualidade consideram linguagem e contextos sociais para garantir que a mensagem seja inclusiva, proporcionando visibilidade positiva e protagonismo às pessoas com deficiência.

Quando os consumidores se veem genuinamente refletidos nas mensagens de uma marca, isso fortalece sua confiança e conexão com ela, criando um ciclo positivo de engajamento e fidelidade.

Estratégias para criar Campanhas Inclusivas em Mídias Sociais

A criação de campanhas nas mídias sociais requer intencionalidade e um planejamento meticuloso, além de uma compreensão profunda dos diversos públicos. Este princípio não difere quando se trata de campanhas inclusivas. Abaixo, apresentamos algumas sugestões e estratégias que podem ajudar as marcas a incorporar de forma eficaz a diversidade e a inclusão de pessoas com deficiência em suas campanhas de publicidade nas redes sociais:

  • Compreenda seu público: antes de lançar qualquer campanha nas plataformas sociais, é essencial ter uma compreensão clara do perfil demográfico e psicográfico do seu público, incluindo sua buyer persona e brand persona.
  • Tenha disposição: Esteja pronto para realizar o que for necessário, mesmo que demande esforço árduo. Esteja aberto para compreender questões ainda pouco familiares à nossa sociedade. Comprometa-se genuinamente em enfrentar desafios e superar obstáculos, confiante de que o resultado final será gratificante.
  • Invista e vá atrás da informação: É necessário estudar, ler, consumir materiais de pessoas com deficiência, como livros, documentários, séries e conteúdo nas redes sociais.
  • Promova a Convivência: “Nada sobre nós sem nós” é um lema originado da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência na ONU, em Nova York, em 2006. Promover a convivência expande as possibilidades, a criatividade e a legitimidade dentro da nossa realidade.
  • Atitude: depois das 3 etapas anteriores, você saberá o que fazer!
  • Seja autêntico: nas redes sociais, as conexões acontecem através da autenticidade do conteúdo. Não se trata apenas de incluir diversos rostos, mas também de retratá-los de maneira autêntica para suas experiências e identidades. Isso pode ser alcançado por meio da colaboração com pessoas com deficiência no processo de criação. Além disso, é importante garantir a diversidade em todas as áreas da empresa, incluindo comunicação, marketing e contratação de fornecedores.
  • Priorize narrativas autênticas: aposte em narrativas autênticas e experiências que representem a vida das pessoas com deficiência. Um exemplo inspirador é o da marca Reserva, que lançou uma coleção focada em pessoas com deficiência, denominada Adapt&, visando atender a um nicho de consumidores que buscavam roupas com ajustes ergonômicos e funcionais para proporcionar mais autonomia. A marca demonstrou um profundo entendimento do mercado ao adotar essa abordagem inclusiva.
  • Use imagens reais de pessoas com deficiência: ao desenvolver suas campanhas, escolha imagens que representem pessoas com deficiência em situações reais. Isso não só oferece oportunidades de trabalho como modelo ou atriz para pessoas com deficiência, mas também garante que suas peças criativas tenham a genuinidade necessária para cativar seu público-alvo. Veja o perfil de Rafa Muller
  • Utilize bancos de imagens inclusivos: recomendamos o UinStock, o primeiro banco digital e nacional para a produção e venda de imagens de pessoas brasileiras com deficiência e suas interseccionalidades. Outra dica valiosa é que a Talento Incluir também oferece consultoria para campanhas serem inclusivas, inclusive realizando o casting para sua campanha.
  • Seja envolvente: certifique-se de que a identidade visual de suas peças represente uma variedade de etnias, idades, habilidades e tipos de corpo. O mundo real é diverso e colorido, e sua campanha deve refletir essa diversidade para envolver efetivamente seu público.
  • Evite estereótipos e clichês: expressões e linguagem inadequadas comprometem a autenticidade de sua marca. A Talento Incluir desenvolveu um guia de comunicação inclusiva sobre pessoas com deficiência para auxiliar profissionais de comunicação e marketing nessa tarefa.
  • Estabeleça grupos consultivos: considere a criação de grupos consultivos internos ou terceirizados compostos por indivíduos de origens diversas para obter insights e feedback sobre as estratégias de campanha. Essa abordagem garante que o conteúdo ressoe com o público pretendido.
  • Participe e interaja com comunidades diversas: esteja aberto ao novo, participe de conversas relevantes em grupos diversos e apoie causas e eventos dessas comunidades. Esses movimentos não apenas o tornarão um profissional melhor, mas também o prepararão para enxergar as belezas das diferenças.

A representatividade de pessoas com deficiência nas plataformas sociais vai além de simplesmente estabelecer conexões entre marcas e consumidores. Ela desempenha um papel essencial na construção de uma sociedade mais justa e compassiva. Ao naturalizar a diversidade e representar uma ampla gama de experiências humanas, essas campanhas não apenas cultivam a lealdade dos consumidores, mas também alcançam pessoas além daquelas com deficiência.  

Quando os consumidores se veem genuinamente refletidos nas mensagens de uma marca, isso não apenas os faz sentir-se valorizados, mas também fortalece sua confiança e conexão com a marca, criando um ciclo positivo de engajamento e fidelidade.

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Este conteúdo foi preparado com ❤️ pelo time da HRI DIGITAL.

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Guia de Comunicação Inclusiva

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